Tirado daqui.
Conheci esta trilogia vai para mais de 10 anos, quando comecei a falar de livros com outras pessoas com gostos semelhantes e com quem passei a frequentar livrarias, sendo que me chamavam sempre a atenção. Vim, no entanto, a conhecer o autor com outra série que não esta (e bem mais longa!) e, devo dizer, nunca pensei conhecer uma personagem que destronasse o Richard Sharpe das minhas preferências. Mas está claro que ainda não tinha tido o prazer de conhecer Derfel Cadarn.
O estilo de narrativa é diferente do que tinha encontrado em outros livros do autor mas foi uma das coisas de que mais gostei. Basicamente, Derfel foi incumbido de escrever uma crónica sobre os tempos de Artur e está, por isso, a contar-nos a sua história, não a dos bardos que tanto despreza. Ele era um dos companheiros de Artur, esteve em muitos dos eventos que moldaram a Bretanha na transição do séc. V para o VI e vemos a história a desenrolar-se através dos seus olhos.
Sinceramente, este tipo de narrativa pode ser um deal breaker para mim, pois em situações de vida ou morte já sabemos qual será o desfecho, ou de outro modo seria outra pessoa a contar a história, mas aqui isso não me incomodou pois há muitas outras personagens com que me preocupei e queria saber que destino seria o delas, para além de que há tanto a acontecer que uma pessoa se deixa embrenhar completamente na história. Só chegava a lembrar-me de que a mesma estava a ser contada anos depois devido a alguns comentários do próprio Derfel ou quando, terminado uma parte, saímos da época de Artur para voltar para o "presente".
Este "presente", para dizer a verdade, foi mesmo das coisas que mais gostei e foi, por isso, que chegando ao fim constatei, com alguma tristeza, que não havia uma nova cena com Igraine, talvez a congratular-se com o facto de a história ter chegado ao fim e a apontar como Derfel contou alguma coisa mal, i.e. diferente da história cantada pelos bardos.
Derfel é uma personagem magnífica de seguir e é interessante acompanhar o seu crescimento. Adorei que ele fosse um cavaleiro capaz e um adulto responsável mas que, sempre que estava com Merlin, parecesse um rapazinho. Mas todas as personagens têm algo de fascinante, são carismáticas e tão bem desenvolvidas, são tão reais! Ceinwyn é um amor e tem uma personalidade tão forte, Lancelote é um estúpido idiota (mas onde está a surpresa?!), o Artur é quase que um Ned Stark que consegue manter a cabeça sobre os ombros por muito mais tempo (e sim, imaginei o Sean Bean porque não consigo desassociar o actor das personagens escritas por Bernard Cornwell) e a Guinevere, finalmente, conseguiu convencer-me! Sim, foram precisos os 3 livros mas é, muito provavelmente, a personagem mais bem construída de entre tantas!
Também foi um feito o autor conseguir fazer convergir todas as personagens que hoje associamos ao mito arturiano e outras que entretanto se perderam no tempo, assim como as várias histórias relacionadas com o mito. Podia tornar-se uma enorme salganhada mas o produto final é uma história coesa, pontuada por momentos de calma e outros que mudam completamente o rumo das coisas, sendo que, como Merlin diz por várias vezes, o destino é inexorável. As personagens servem a história e crescem com os acontecimentos por que passam e fiquei mesmo a pensar "pode ter sido esta a verdadeira história do Artur!"
E o retrato que o Bernard Cornwell faz da época! Ele retrata na perfeição um período conturbado. Um período pós domínio romano, que ainda se faz sentir na paisagem e leva, por diversas vezes, as personagens a perguntar-se como podem ter perdido tanto conhecimento. Um período em que a religião está por demais presente, é uma parte importantíssima do dia-a-dia das pessoas e vemos como uma nova religião ganha seguidores e coloca em causa todo um sistema prévio, onde a magia e a superstição têm um lugar fundamental em como as pessoas interagem com o mundo. Retrata um período em que as lutas são feitas corpo a corpo, com uma muralha de escudos e onde nem sempre se tomam prisioneiros. É um período brutal onde, saindo de um domínio romano, a Bretanha passa a ser assediada por Saxões. A sério, é um retrato da época por demais muito bem conseguido.
Enfim, esta trilogia foi, para mim, uma história perfeita. Foi tudo o que estava à espera e ainda mais. Bernard Cornwell, se já não fosse um dos meus autores preferidos, chegava directamente ao top 5 só com estes livros. Preciso de mais...