Ora, acho que uma reflexão se impõe. Não só deste último ano, mas talvez de 2020 (ou mesmo 2019?) para cá, até porque só agora percebo como estes últimos anos e a pandemia me poderão ter mudado.
Vamos então começar do início, o que leva a recapitular algumas coisas.
2018 fui um ano estranho. Cheio de altos e baixos, mas que, felizmente, terminou com a entrega de uma tese de mestrado e com a perspetiva de mudança de trabalho. A defesa da tese e a mudança de emprego concretizaram-se, sensivelmente, na mesma altura em 2019. Foi engraçado defender a tese sobre um museu em que semanas depois deixaria de trabalhar. Aliás, deixaria o mundo dos museus profissionalmente para trás.
2019 foi por isso um ano de adaptação a um novo local de trabalho, a novas tarefas, a um novo horário, a um novo tudo... A um novo eu, porque, convenhamos, museus era o que eu conhecia e onde, desde pequena, me via e imaginava a trabalhar. No novo local comecei um período de estágio de 18 meses, mas ainda estava a acabar os primeiros 12 quando, de repente, pandemia! Pois bem, ainda mal refeita da adaptação a novas tarefas e métodos de trabalho, eis que surge a necessidade de nova adaptação.
E correu bem! O primeiro confinamento correu tão bem! Fui produtiva, li bastantes livros, aproveitei e vi peças de teatro online! Durante o desconfinamento comecei a fazer caminhadas..., mas, entretanto, algo muda e inscrevo-me num novo mestrado. Cerca de ano e meio depois do primeiro.... Claramente não estava no meu melhor momento. Mas o primeiro semestre até correu bem! O horário era algo apertado, entre sair do trabalho e ir para as aulas, mas foi-se fazendo. E depois veio 2021 e um novo confinamento... E eis que algures se entorna o caldo.
Levantar-me cedo, estar a um ecrã de computador das 8h às 24h, por causa de trabalho, aulas à distância e reuniões devido a trabalhos de grupo, deu cabo de mim, ou pelo menos da minha motivação e energia. Talvez tenha também perdido um pouco de mim. Ou pelo menos o tenha entendido assim naquele momento. Porque as dúvidas sobre se tinha tomado a decisão correta em 2018/2019 como que voltaram.
Engordei, autoestima em baixo, frustração em alta.... Coloquei a primeira experiência de tema do ano de lado por um bocado, bem como leituras (salvo alguns períodos mais proveitosos em que sentia necessidade de fugir de mim e da situação em que me encontrava) e redes sociais. A última não faz mossa, antes pelo contrário, mas não ler é sinal de alerta para mim. Salvou-se o cinema e a televisão, mas só me lembro de apanhar o comboio do Marvel Cinematic Universe, para o perder logo a seguir. Também o desenvolvimento da nova tese de mestrado foi ficando de lado. Esperava que dar um novo salto aos museus, ainda que de outra perspetiva, me pudesse motivar, mas nem por isso.
Em 2022 comecei com um novo tema, consistência. 2021 foi um ano onde houve boas intenções, mas em que ia colocando as coisas de lado pouco depois de as começar, pelo que consistência me parecia uma boa palavra para um novo tema e para um novo ano. Consistência significa "característica do que tem uma estrutura ou coerência interna", logo pensei que teria de me concentrar no processo para atingir o fim ou objetivo que desejava. O processo, a meu ver, seria a rotina (as leituras/vídeos sobre produtividade podem ter contribuído para isto), que com os confinamentos e os altos e baixos da pandemia foi ficando desregulada; bem como o dedicar-me de forma intencional, e sem desculpas, às tarefas e ações que precisava de levar a cabo para atingir aquilo que pretendia. Isso implicaria incorporar as tarefas e, sobretudo, as ações na minha rotina. Melhor dito (escrito?) que feito...
2022 ameaçava seguir pelo mesmo caminho que 2021... até que em maio adotei um cão e, não é que a vida tenha mudado, mas pelo menos a parte da rotina está a funcionar.
Acordo cedo para o levar à rua, pelo que começo o dia com silêncio e vejo o nascer do sol. Como tenho de estar de olho nele, ou ele arranca-me o braço tentando ir atrás de outros cães com quem gosta de brincar, tenho de me focar no momento presente e, vá-se lá perceber, só agora dei conta da variedade de aves que existem em Lisboa. Também me força a sair de casa e a conviver com pessoas, o que me leva a sair do casulo em que me fui enfiando durante a pandemia. Nunca fui dada a muitas conversas e convívios, mas estive a ponto de virar ainda mais bicho do mato. Além disso, também me está a ensinar a ter paciência e a lidar com a frustração. Sim, que ele só é esperto para fazer asneiras e para aquilo que lhe interessa. Mas não o trocava por nada deste mundo.
Para 2023 não sei o que me espera, mas já tenho novo tema - (re)descobrir. Pretendo, pelo menos, redescobrir o gosto pelo estudo, pois a tese vai prosseguindo devagar, mas vai seguindo e tenho de a entregar em março. Depois logo se vê que mais há por (re)descobrir.
(*) Só para verem o quanto mudei, de 2020 para cá voltei a ver e, sobretudo, a gostar de F1 (!), daí o título. Era bom demais para não o utilizar... E não, não se deve ao Drive to Survive, que ainda não vi nenhuma temporada, mas com a pandemia e o irmão a sair de casa, tive de passar a dar assistência na visualização das corridas na F1TV, até a SportTV ter novamente os direitos em 2022, mas aí já estava novamente fã.